25 abril 2007

Um exercício com as palavras

Bem como disse: aqui é um espaço para texto e imagem.
Tenho algumas fotos do centro mas estou optando por deixar um texto feito ainda agora pouco.
Me lembra o fluxo narrativo da turma do James Joyce - sem nenhuma pretensão.
Acho um texto gostoso para ser escrito, porém nem sempre enquadrado numa leitura impaciente como é o que predomina na internet, é isso: hoje não tem foto, tem texto, um exercício com as palavras:

Ela se jogou de qualquer janela. Tinha como trilha sonora Legião Urbana e Alanais Morissette. Teve que por um instante consultar a grafia no iPod. Era um Adeus . Como o de Silvia Plate, como o de Torquato Neto e como o de Virginia Wolf, mas dessa vez ela não consultaria nenhuma fonte, sairia como sairia. Ela se perdera, do caminho de casa para o trabalho: ouvindo Keane ou outra bobagem. Não, ela não era mais adolescente, só umas doses de vodca, e a lembrança…triste, porém distante. Superada as dores, a janela a convidava, seria o momento do vôo. Lembra daquele crítico que disse que suas fotos eram..., o que é mesmo? Sei Lá…Sem pontuação correta ela prosseguiu, sem acentuação correta ela prosseguiu, mirou a janela e se lançou. Não caiu, não sangrou, apenas imaginou voar, reviu amigos ficou com saudade, pegou o telefone, mas não ligou, afinal quem somos nós depois de tanto tempo passado, depois que abandonamos a pontuação correta, ou depois que as lições corretas aprendidas na escola ficam para trás. Lembrou de um amigo doente, ficou triste, não devia mencioná-lo aqui. Mas quando não mencioná-lo, quando usar a pontuação correta? Quando acertar na pontuação? Quando acerta na escolha da música? Agora ela escuta uma gaita na música da Alanis…E daí? Ela ainda quer voar, mas suicído tá fora de moda, e ela apenas vôa em pensamento e não consegue a atenção para calar suas inquietções. Sim, ela ainda pergunta pra vida, ela não faz cinema, nem é a tal, quer apenas fotografar …"Please speak", agora a Alanis canta, ou ela pensar entender (ou quer entender): "Please speak", mas o inglês não vai além, o inglês é limitado e lhe falta algo, talvez mais uma dose de vodca lhe traga lucidez ou a loucura que ela tenta ocultar. Sim , tentamos ocultar nossa locura diária de banalidades cotidianas, mas ela não quer se tornar amarga. Não, são só desejos potencializados pelo álcool, mas ela detesta esse meio etílico de se expor…Então tudo passa pela exposição, esse deveria ser um espaço para imagens, mas ela não se importa, já é tarde, ela tem sono. Quem revisará o texto? Quem revisa nossa vida? Quem revisa nosso desejo de vôo? Não creio que seja a loucura, ela é por demais libertadora, o que nos revisa constantemente são nossas escolhas…Agora escolho um retaurante natural, com gosto de demagogia e brindo com meus amigos alguma tolice. Mas não quero ser triste ou persimista… agora no iPod ela canta "Ironic". Há coincidências jungianas, e ela pensa em quem terá “saco’ para ler tudo isso. E, sempre que o “ela” aparece, ela joga para a terceira pessoa algo que lhe pesa. Sim, ela leu meia dúzia de livro, mas ainda sonha. Sua expressão escrita é gritante, mas ela ainda canta. Acredita em príncipe encantado ou deveria dizer princesa, mas daí não advém nenhuma dúvida de gêreno, apenas de felicidade. Ela poderia passar a noite divagando, mas o sono a incomoda. Lembra de um rosto e quer amar. Lembra de um sono e não quer acordar. Quer ser conduzida, e hoje em dia isso significa uma atitude muito ativa. Expor-se e desejar ser conduzida para qualquer fogueira. Ela é uma bruxa, lê tarô, mas se perde em qualquer esquina, ela espera pelo próximo evento, quer dizer, ela espera pelo próximo vento que a conduzirá por aquela janela, alta e soberana com a promessa de um vôo eterno.

3 comentários:

Jay disse...

E oq é a vida a não ser uma sucessão de vírgulas mal colocadas, não é mesmo? Que separam o sujeito das ações e às vezes interrompem o ritma da leitura. Vício transitivo, até que a gente se dá conta de que os pontos são muito mais úteis, mesmo que subjetivamente (e que continuem neste âmbito). Texto bárbaro e verdadeiro! Acho que vc tem uma história a contar, com o trunfo de poder ser visual e literariamente. E que tudo termine em exclamação! Ou mesmo uma interrogação, mas nunca final, ok? (putz, o menino está surtando nas pseudo-analogias gramaticais, mas achei genial a sua metáfora). E liga aí quando quiser! Bebo, pq é legal!

Valéria Vaz disse...

Jaime - sobre o comentário anterior - É isso mesmo, a pontuação tem que melhorar, agora sem o efeito da vodca talvez seja mais fácil. Faltou dizer que pensei em ligar para um amigo e dizer que eu o amava (pra ele isso não seria original, mas para mim sim) Bjs.

Penelope Brito disse...

Eu tive! Eu tive, sim! Tive muito saco e li o texto todinho. Diga a ela! Sim! Diga a ela por mim que li tudinho, tudinho...
E amei.

Beijo!